[...]
- Aqui estão seus braços - disse-lhe Alice - Como quer que eu...
- Não minha querida. Vá atrás de minhas pernas. Deixe-os aí. Depois juntamos tudo de uma vez. Não perca tempo, POR FAVOR.
Alice se virou. Ela correu para uma pequena porta escondida, apontada pelo Chapeleiro. Ela passou por uma série de corredores estreitos. Até que chegou na plataforma, onde esteve logo depois do primeiro encontro com o Chapeleiro. Ela olhou ao redor, e percebeu que a plataforma por qual passara estava a cerca de uns 20 metros da qual ela se encontrava.
Ela desceu por uma escada de madeira bamba. Por segurança, ela achou melhor correr.
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Ela deve ter descido cerca de meia hora num trenzinho que encontrou no caminho. Ela passou por dezenas de salões enormes. Portas colossais, e alguns bichos esquisitos que teve que matar pelo caminho.
Ela passou por uma porta de tamanho comum de madeira, e se deparou num salão vasto, com várias gaiolas pendidas com cordas no teto. Ela observou mais, e avistou alguns Dodos de cor chumbo presos.
Ela avistou uma porta do outro lado. Porém não havia nenhum tipo de corredor. Graças as dezenas de gaiolas, ela conseguiu usá-las como "corredor". Ela passou pela porta, que estava derrubada. Ela alcançou um corredor vermelho, com desenhos geométricos nas paredes. Ela andou lentamente, até que chegou a mais um salão. E lá no alto estava, mais um "varanda". Idêntica ao da ratinha, com quem estava o braço do Chapeleiro. Lá ela avistou o seu antigo amigo, o Coelho Branco... Porém, não se dava mais para chamá-lo de fofinho...
Cheshire falou na cabeça de Alice, o quase óbvio. "As pernas estão com o coelho"... Fala sério?
- Sua obstinada persistência será recompensada com a dor - disse o coelho, com uma voz de um velho tentando assustar crianças - Eu te disse para sair e desistir.
Alice nada falou. Apenas olhou ao seu redor, e enxergou as pernas do Chapeleiro. Estavam presas em uma engrenagem gigante. Ela observou vários Dodos sendo escravizados correndo como Hamsters em engrenagens. Alice começou a correr. Ela passou lentamente por um corredor que devia ter uns 20 centímetros de larguras.
Subiu uma escada de madeira, e chegou a uma plataforma. Ela percebeu que estava em cima de uma engrenagem gigante parada.
- Vamos, meus bons amigos não-saltitantes... Peguem-na - gritou o coelho.
Três monstros-cozinheiros vieram do nada para atacar Alice. Ela desferiu facilmente sua faca contra eles, mandando suas cabeças abismo abaixo. O coelho gritava e gritava, pois Alice estava tacando cascos de paredes quebradas nos Dodos, fazendo-os parar as engrenagens.
O Coelho percebeu a chegada de Alice próximo a ele. E também viu que o corredor trancado que levava até ele estava desmoronando.
- Não... Parem. Já é o suficiente. Argh. PAREM DE CORRER IDIOTAS.
O corredor estava prestes a desabar. Alice avistou duas alavancas, e as puxou. Então ela percebeu que uma das alavancas invertia o trabalho dos Dodos, e a outra deixava o caminho novamente para frente. As duas alavancas deram um certo colapso. Várias engrenagens começaram a desabar, inclusive o corredor do Coelho.
- Acha que vai nos parar? - perguntou o Coelho, olhando sombriamente para Alice - Sua insignificante! Você jamais vai me pegar.
Ele subiu por um elevador, exatamente como fizera a ratinha. Estariam eles no mesmo lugar? Bom, ela não tinha tempo para isto. Ela correu até o cantil do Coelho. Pegou sua faca e cortou vários fios de botões e alavancas. As pernas do Chapeleiro caíram ali. Alice pegou-as e desceu novamente. Os braços foram fáceis... Como devolveria as pernas?
Ela então lembrou do que disse o Chapeleiro um dia "tudo em meu reino chega a mim...". Ela, instintivamente começou a procurar pelo piso uma passagem igual ao que levou os braços. Lá estava. Um poço fechado no chão. Com um pouco de esforço, conseguiu abrir o suficiente para jogar as pernas. E novamente, Cheshire lhe disse "vá, minha querida. É seguro". E tenho escolha?
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Braços mecânicos colocaram o braço do Chapeleiro no lugar. Eles os movimentava lentamente. E o mesmo foi feito com as pernas. E o chapéu foi colocado, por um braço mecânico. O chapéu era alto. Quadriculado em preto e branco, como um tabuleiro de xadrez, com algumas marcas nele.
Antes que ele chegasse ao chão, Alice protestou.
- Terminei meu trabalho, Chapeleiro, e agora, o que acontece com esse trem maldito?
- Me sinto um novo homem. Me sinto como a primavera a ponto de florescer, como uma engrenagem lubrificada, como um pedaço de metal puro cravado no olho.
- Me responda Chapeleiro. Estou sofrendo. Todas essas mudanças são causa, reflexo ou o efeito. O que está acontecendo? Quais são as novas regras?
O Chapeleiro observava um cajado quase de seu tamanho, com uma bule de chá em seu topo.
- A lei é apenas... apenas um sussurro... - a voz alegre do Chapeleiro sumiu - uma maneira de perguntar... quem sabe como medir as regras... é com uma régua... regras cruéis.
Ele deu um sussurro sombrio.
- Idiota. Eu deveria ter deixado você em pedaços. Vamos, me ajude a descobrir o que está acontecendo.
O chapeleiro se aproximou dela. Ele era enorme, comparado a ela. Ele agarrou sua cintura com uma das mãos, e a jogou em suas costas. Ele saltou pelas paredes, até chegar na plataforma onde Alice passara. Ele então saltou no abismo...
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Quando ela se deu conta, estava de frente a uma porta enorme dourada. Dava para perceber que estava muito abaixo de onde estava anteriormente com o Chapeleiro. Ela olhou para trás e observou mais um abismo. Ela conseguiu passar por uma fresta da porta. Ela entrou num salão acinzentado cheio de máquinas velhas, e lá estava o Chapeleiro.
- Coragem, Alice, vou abir aquela porta.
Ela mal a veria se não fosse o Chapeleiro indo em direção a ela. O Chapeleiro a abriu. Ele correu porta a dentro. Alice o seguiu. Estava havendo um terremoto.
- O que está havendo? - perguntou ela.
- E acha que sei de uma catástrofe desta?
Eles correram mais um pouco. E chegaram ao que parecia uma estação. Dezenas de relógios estavam presos ao vasto teto. Havia um trilho cruzando o lugar. O terremoto estava mais intenso. Um barulho ensurdecedor invadia sala. E lá vinha. Um trem. Negro, enorme. Um maria-fumaça sombrio. As janelas eram vermelhas como se pegassem fogo.
Cada vagão parecia um castelo tenebroso. A fumaça que soltava respingava pura lava. Não demorou muito, e ele cruzou totalmente a estação, e se foi.
- Descobrimos a origem do tremor. - refletiu Alice - O que estão planejando?
- Esse é o maldito Trem Infernal ele...
Antes que o Chapeleiro dissesse algo a mais, uma voz ecoou. Uma voz de uma velha... Lembrava a voz da ratinha.
- Nunca vai nos parar, Chapeleiro e Alice. Agora fora. Estão muito atrasados. HOHOHO.
- A insolência, arrogância, são modos terríveis para colocar na mesa. Destroem o País das Maravilhas. - O Chapeleiro estava demasiado irritado. - Corruptos... insanos...
- Será que criaram esse trem para destruir o País das maravilhas? - perguntou Alice.
- O que isso importa? Eles merecem MORRER.
Um gancho enferrujado prendeu o Chapeleiro pela gola.
- Ei, me solte... Eu devia...
O gancho o levou longe. Alice sacou sua faca.
- Chega de papo, é hora de lutar - gritou aquela voz velha novamente.
Um robô gigante, com um furador como mão direita, e uma marreta enorme como mão esquerda se levantou. Alice se desesperou. O que faria? E lá estava, a ratinha e o Coelho no comando dele. O braço-marreta bateu com força ao lado dela. É meu fim, pensou ela.
Porém algo inesperado ocorreu. Os braços caíram. A ratinha e o Coelho foram lançados deitado aos pés de Alice, e o robô todo desmontou. O Chapeleiro foi lançado novamente perto de Alice.
O coelho e a ratinha estavam mortos. O Chapeleiro mudou de postura. O lugar estava desabando.
- Nãããão! Meu domínio precioso! E os convidados! O que eu realmente queria era mais uma reunião de chá!
- Por favor Chapeleiro. Você prometeu. Para onde o trem vai? Qual seu destino? DIGA-ME AGORA.
A estação já havia perdido metade de sua estrutura. O Chapeleiro choramingava. Alice não podia mais perder tempo.
- Não há tempo para isso. Tudo o que eu posso dizer é... é hora do chá! Fale do trem com a Tartaruga, vá para a linha do espelho.
O Chapeleiro erguia a cabeça das duas vítimas, desesperado, como se esperasse que eles se reanimassem.
- Vamos lá. Você e eu não podemos ser amigos? Eu tenho uma excelente Darjeeling. A bebida! A bebida. - o Chapeleiro havia perdido completamente o juízo.
- Minhas lembranças estão destruídas. Estou tentando recolher os pedaços e agora acredito que o trem me impede. Você deve me ajudar. Você prometeu.
- Pergunte por que 'ajude os que se ajudem a si mesmos'. Quem quer que seja.
Tudo começou a desabar de vez. Escombros imensos caíram sobre o Chapeleiro.
- Muito bem. Merecia morrer. Estou prestes a me afogar em chá... em minha ignorância. - Esses foram os últimos gritos dado pelo Chapeleiro.
Tudo tremia. Parecia o Fim do Mundo. Alice se desesperara. Perdera o Chapeleiro. O que faria? Onde estava o gato de Cheshire? Como ela sairia dali? Ela olhou para cima, e viu o teto vindo em sua direção.
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No próximo capítulo: O destino de Alice, o que é o Trem Infernal? Não perca
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