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Ela escalou um pequeno morro de pedra, e continuou em frente. Se enroscou em algumas árvores com espinhos do tamanho de um carro, mas isso não a prendeu. Olhou para a trilha abaixo, e viu uma pequena "criança", se assim podia dizer, ao longe sorrindo e balançando a cabeça. Alice tentou se aproximar. A criança começou a se afastar com passos apressados, e sumiu da vista de Alice. A garota, então, virou uma esquina de pedras, e encontrou uma "praça" ao estilo País das Maravilhas Sombrio. Desértico, duas "criaturas das sombras", e o que parecia uma banca de feira do outro lado.
Ela teve a impressão de que esses dois monstros eram um pouco maiores que os outros, mas preferiu não deixá-los se aproximarem para descobrir. Ela pegou uma pedra em seu pé no chão, e nocauteou um deles quando a atacou. O outro desferiu contra ela, mas Alice foi mais rápida, e investiu uma facada no corpo do monstro. Quando a poeira baixou foi que ela percebeu. Aquela tenda não tinha nada de feira. Ela observou no chão uma trilha com trilhos de trem sumindo por entre os morros. A tenda parecia ser... uma velha... estação?
Ela segue a trilha. Algo lhe diz para seguir, porém, o que? Ela começa a correr. Quando chega num túnel, lá está a criancinha novamente, rindo sombriamente, e começa a correr novamente até sumir. Quando andou cerca de 2 metros no túnel, a caverna ficou escura. Escura como uma noite perto do amanhecer...
O teto começa a ruir. Ela acelera os passos, e entra num corredor sobre uma fenda de pedras vermelhas. Elas estava fora dos trilhos; encontrava-se numa caverna com rochas vermelhas. Várias estalactites ameaçavam ruir. Centenas de bules de chá estavam grudadas nas rochas. De todos os tamanhos. Ela olhou para as pedras a sua frente, e se calou completamente. Duas criaturas com pele verde, nariz comprido, e um bule de cabeça pra baixo como chapéu, estavam de costas para ela. Usavam avental branco de cozinha.
Eles resmungavam algo que ela não entendia. Alice recuou um pouco, mas esbarrou numa pedra. Os cozinheiros olharam pra ela; os dois pegaram uma colher gigante de madeira, e começaram a andar na direção de Alice. Ela sacou sua faca. Como o normal, ela esperava que eles a atacassem, porém, pegaram pedaços de pedra no chão e os tacavam batendo com a colher em Alice. Era como um jogo de Golf com pedras e colheres de madeira gigante. Ela desviava, algumas acertavam ela. Alice não tinha outra escolha senão atacar; só então ela percebeu que eles tinham a altura de sua cintura.
Ela correu, desviando das pedras; quando se aproximou de um deles, ele partiu com a colher pra cima dela. Para sua sorte, ou não, ele batia cegamente; como um louco com os olhos fechados. Ela aproveitou a deixa e arrancou a colher dele, e arrancou a cabeça dele com uma facada; teria sido uma cena horrível para ela se não fosse a ameaça do outro. Ela acabou por fazer os mesmos movimentos contra ele.
Ela continuou em frente pela caverna. Era bem grande. Como um vasto salão preenchido por pedras e bules. Ela passa por diversos bules até chegar a um precipício. Apenas a escuridão de nuvens abaixo. Ela olha ao redor, e vê uma escada de madeira. "tenho outra escolha?". Ela subiu o primeiro lance, e chegou a um piso redondo. Ela correu até o outro lance de escadas, e deu de encontro com uma corneta gigante, apontada para o abismo. Havia algo escrito, porém, estava quase apagado. Tudo que conseguiu entender foi "teleférico". Ela assoprou.
O chão tremeu, e só então percebeu as cordas por cima de sua cabeça. E lá estava, do outro lado do abismo, um teleférico em forma de bule de chá. Ele parou no piso redondo. Alice foi até lá, e embarcou. Havia um logotipo dentro do teleférico, que dizia Hatter Industries. O teleférico andou por bastante tempo até começar a enxergar algo. Casas deformadas, com luzes vermelhas por entre as janelas. Fumaça saía do meio delas.
- O domínio do Chapeleiro. Tinha me esquecido! - exclamou ela. O gato de Cheshire novamente apareceu.
- Aparências como você sabe melhor que mutos, podem enganar Alice. Muita coisa mudou desde sua última visita. - o gato soava sombrio.
- Dr. Bumby diz que a mudança é construtiva, e ser diferente é bom.
- O que é diferente não é bom nem ruim, apenas não é o mesmo. Encontre o Chapeleiro, Alice. Ele sabe mais sobre diferença do que você imagina!
- Mas você sabe a diferença entre o bem e o mal?
Os vidros do teleféricos foram atingidos. Cheshire olhou assustado; porém não parou de sorrir.
- Fazendo amigos, Alice? Ás vezes você é muito mortal, e está mais confusa do que nunca.
Ela então viu que eram moscas que tentavam quebrar os vidros... iguais as que teve que matar na casa da Duquesa, quando capturou os focinhos de porco.
- Consegui sem você até agora, gato. Volte para o casebre, que é o seu lugar. Te chamo, se eu precisar. - decidiu-se Alice.
- Previsivelmente imprudente. Não é questão de si, Alice, e sim quando. Agora espere, como dizem, cale-se.
- Tão típico - disse ela com nojo, enquanto ele desaparecia novamente.
O bondinho deu de encontro com uma parede, e o teleférico entrou. Quando ela se dá conta, está caída no chão, já fora do teleférico. Estava num pequeno salão, com paredes azuis e desenhos incompreensíveis. Algo que parecia uma fonte jorrava água muito forte do outro lado.
- Eu já fiz entradas mais elegantes. - pensou em voz alta - Devo dar graças por não ter me quebrado.
Só quando se aproximou percebeu que não era água. Mas sim vento. Ela viu um corredor acima de sua cabeça, onde não conseguiria subir. Então ela observou o vento forte subindo. Tão óbvio não? Pra um lugar desses...
Ela pulou no jato e mal dando tempo de reagir, já se encontrava no corredor. Ela olhou a frente, e estava defronte a uma parede quebrada. Passou por ela, e enxergou o lugar. O céu estava amarelo, com algumas nuvens de vapor negra; várias engrenagens encontravam-se suspensas no ar, com algumas correntes. E alguns pequenos castelos ao longe acesos com luzes vermelhas.
Ela subiu vários lances de escadas e corredores suspensos no ar. Se deparou com vários cozinheiros que queriam atacá-la, porém, estavam longe de seu alcance. Ela encontrou outra parede quebrada. Passou pelos escombros, e entrou num corredor fechado. Havia muitas máquinas estranhas pelos corredores. Parecia uma fábrica de produção em massa. O piso era alternado em preto e branco, como tabuleiro de xadrez. Havia muitas manchas de sangue no chão...
Ela foi obrigada a sair novamente do local, passou por outra parede quebrada, e pulou por diversas engrenagens suspensas. Após correr um longo corredor, e matar 7 cozinheiros, ela entrou em outro castelo. Desta vez por uma porta. O local é idêntico ao outro, porém sem máquinas, já que estava num corredor. Via-se muitas portas, porém todas emperradas com cacos de bules de chá gigante.
**********
Alice já estava cansada daquele lugar. Finalmente entrou numa castelo permanente. Pelo corredores abertos, passou por muitas cachoeiras de chá; era um aroma bom, e seria muito agradável estar ali, se não fosse a situação corrompida do lugar.
Ela passa por várias portas enormes. Quando ela chega numa porta vermelha, ela ouve a voz do gato de Cheshire...
- Está obcecado com o tempo. Encontre-o, seu tempo é curto.
Ela sobe um elevador movido a manivela. |Ela entra num túnel gigante, com várias tubulações de canos gigantes. Ela anda por mais ou menos 10 minutos, e entra numa porta enorme, descrita em cima "Achados e Perdidos". Parecia um ferro-velho gigante, com todos os "achados" prensados uns nos outros desde o chão até as paredes.
Alice atravessou o salão, e passou por vastas portas bordadas de vermelho-vinho. Ela sentiu sua cabeça girando e a voz de sua mãe novamente lhe atordoou... "Vamos acabar assados em nossas camas, Alice, pela devoção que seu pai tem por papel de parede. É preciso apenas uma faísca para fazer esse material entrar em combustão.".
Ela entra, ainda tonta, numa porta com vidros em chamas. Parecia que a chama ardia numa caixa de vidro entre a porta. "Nossa querida biblioteca foi uma armadilha de fogo. Um incêndio, e veja o que aconteceu...". Alice se ouviu falando essas palavras... O que significava?
Ela atravessou uma longa sala vermelha, com desenhos dourados. E a voz do gato ruía em sua cabeça... Concerte-o... Concerte-o... Concerte-o... Concerte-o...
Ela chegou num salão verde, com piso encharcado. Vários vasos nos cantos do salão. Várias correntes pendiam do teto. Ela viu uma cabeça no chão. Uma cabeça enorme (ou era ela que estava pequena?), com nariz grande, e pele asquerosa verde. Dessa vez, não lhe houve pavor, e Alice o reconheceu...
A cabeça resmungava.
- Chapeleiro - começou Alice - eu tinha te deixado em estado decrépito, mas não em pedaços.
- O que?... ah, é você.
- O que aconteceu aqui? - perguntou ela - Você perdeu seu chapéu e... te falta algumas partes.
- Falta, na verdade. Porém, as coisas são o que são. Nem senti sua falta. Quanto ao que aconteceu, você deve saber melhor que eu. É o seu lugar, afinal. Eu sei onde é o meu.
- Quando você sabe seu lugar, e como conservá-lo! Agora, o que aconteceu?
Tudo tremeu, e um apito ensurdecedor atingiu o salão... Eles então perceberam que era o som de um trem.
- Ahhh. Que está acontecendo - gritava o Chapeleiro - Ao redor, lá em cima, aqui em baixo, meus ouvidos, meus olhos, meu nariz, minha garganta e minhas entranhas.
- Meu pai gostava muito de trens. Eu já não gosto muito. - lembrou Alice, quando o som se foi.
- Por isso que não vai gostar. Nada como quando a Falsa Tartaruga foi a responsável da estação do espelho. Este trem é um maldito massacre. O fedor é horrível, a luz é cegadora e o barulho infernal, o...
- A Chapeleiro, tenho uma idéia... Um... trem do mal!
Uma mão mecânica desceu, e começou a puxar o apoio em que a cabeça do Chapeleiro estava.
- O mundo tá de cabeça pra baixo, Alice. Os loucos vão para o asilo, sem ofensas. E o pior de tudo. To fora do...
- Trágico. - interrompeu Alice - Se eu te ajudar, vai me ajudar em que?
- Juro pelo meu coração, se eu voltar a ter um. Ache meus membros, jogue para mim. As máquinas fazem o resto. Vá agora, boa menina. A melhor saída é pelo relógio.
Alice foi até o outro lado do salão. Subiu um elevador movido a manivela, e voltou a paisagem amarelada. Havia grandes bules e máquinas juntas em seu redor. Havia uma placa pouco à sua frente, dizendo Cheirar e Regurgitar. O que aquilo queria dizer? Bom, ela não tinha tempo para isso.
Alice ouviu em sua cabeça uma voz, parecia de um homem, um homem velho... Seu avô? "Você cresceu, pequena Alice, deixe de infantilidade". "Porque ele não está aqui para mim dar um soco na cara dele?" pensou Alice. Ela olhou suas opções de caminho, e percebeu relógios enormes, ao estilo Big Ben, e até mesmo uns no piso em que estava. Ela subiu um pequeno lance de escada, e encontrou uma xícara, com duas rodas e uma linha de trem estreita, e que descia escuridão a baixo. Já dava pra imaginar.
Ela embarcou, e puxou uma pequena alavanca. Para sua surpresa, ela não demorou nada para descer, e foi devagar. Ela chegou num salão com grades devisórias no chão. Ela ouvia alguma coisa resmungando alto. Logo conseguiu entender algo "Os passos pra sabedoria iluminam o caminho, mas cada passo é difícil. Dê um de cada vez"
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Alice passava por dezenas de corredores e salões cercados de cachoeiras e lagos de algum líquido pastoso e laranjado. A princípio aparentava ser lava, porém havia um forte aroma de chá doce, porém ela ainda sentia o calor. Lava com aroma de chá? Mais uma invenção do estúpido Chapeleiro?
Alice entra num corredor marrom com luz que parecia natural. Ela correu em frente...
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Alice se sentia num labirinto sem fim. Pouco sentia que tinha feito, mas sentia que devia estar ali, apesar de todas as inconveniências e as coisas que pareciam não fazer sentido de tê-la ali. Ela andou e andou, com vozes do gato de Cheshire em sua cabeça lhe dando algumas dicas. Algumas vezes ela as achava realmente boas, porém as vezes queria tacar ele dentro dum canil cheio de cachorro.
Ela conseguiu achar o fim, e chegou a outro salão enorme com cachoeiras de chá-lava. Ela avistou no meio do salão, uma pequena "varanda" circular, no alto. Lá, Alice se deparou com alguma criatura pequena. Então ela enxergou. Um rato. Mas pelos resmungos ela percebeu que era mulher.
- Sua presença não é bem-vinda - gritava a ratinha - Temos uma missão para completar. Você é um incômodo insuportável. Uns gostam de calor. Mas ninguém gosta de tanto calor.
Alice correu por um corredor que circulava o salão.
- Tenho os braços que precisa - voltava a resmungar a ratinha - Bom, no sentido estrito da palavra o Chapeleiro precisa deles. Bem, não importa. Estou indo pegá-lo.
Alice olhava ao redor. Precisava chegar até a ratinha. Ela viu algumas válvulas. Sem mais opções teria que testá-las. Ela foi até elas e girou duas delas. O chá-lava começou a esfriar, virando metal duro. Então era metal derretido com cheiro de chá? Realmente esse País das maravilhas está corrompido, pensou ela.
A ratinha se aborreceu.
- Um pequeno contra-tempo. Um obstáculo pequeno. Uma tentativa banal. Vá em frente, depois me encarrego de você, Alice. Jamais vai estragar nosso grande plano.
A ratinha ativou um elevador em sua varanda, e sumiu andar a cima.
Foi então que Alice viu. Avia um pequeno corpo de robô pendurado, com os braços do Chapeleiro, pendurados como se fosse parte do robô. Alice se aproximou e puxou os braços. Leves como manteiga. Ela lembrou do que o Chapeleiro disse. Mas como ia deixar os braços para máquinas? E quais máquinas? O gato de Cheshire novamente falou em sua cabeça. Nada que fizesse sentido, mas ela soube o que devia fazer. Ela viu uma abertura de metal no chão, semelhante a um poço. Ela os jogou.
Alice entrou no mesmo tubo de onde jogara os braços. Para sua sorte, ela caiu no mesmo lugar onde encontrara o Chapeleiro pela primeira vez. Foi como um escorregador gigante. Lá estava o Chapeleiro pendurado.
- Aqui estão seus braços. - disse-lhe Alice. - como quer que eu...
- Não minha querida. Vá atrás de minhas pernas. Deixe-os ai. Depois juntamos tudo de uma vez. Não perca tempo, por FAVOR!
Alice se virou.
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No próximo capítulo: As pernas do Chapeleiro, sua reconstrução, e alguns segredos revelados...
Não perca
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